“Ai Gabi, só quem viveu sabe”
Eu devia estar trabalhando (ou dormindo), mas resolvi brincar de dar entrevista.
Estava indo dormir, aí fui dar uma última olhada no e-mail, que me levou à home do Substack e lá estava o texto da Bia Bonduki falando sobre o “questionário proustiano”, porque teria sido inventado pelo autor de Em Busca do Tempo Perdido (comprei uma edição linda, de capa dura, derrubei café no primeiro livro, não terminei de ler, acho que doei os livros em alguma mudança, sei do que se trata e tenho em e-book pra jogar no Kindle qualquer dia).
E o duro é que a Bia não só respondeu como “desafiou” os leitores a também responder. E é óbvio que não resisti, eu que fui uma criança-prodígio (chata), que desde cedo me imaginava dando entrevistas ao Jô Soares ou à Gabi, e que adorava responder aos cadernos de perguntas que as meninas passavam na escola (eram sinal de status, né, os meninos chatos não eram chamados pra responder).
De certa forma, foi uma sessão de terapia interessante. Acabei jogando para publicar pela manhã para chegar a seu e-mail num horário mais palatável. Se você chegou até aqui e achou a ideia bacana, manda ver e traz o link aqui nos comentários.
1. Qual sua noção de felicidade?
Hoje, a principal é “dormir até acordar”, ou seja, acordar na hora que quiser sem o despertador e sem sentir culpa de estar procrastinando e deixando de fazer alguma coisa importante/urgente.
2. Qual seu maior medo?
Da morte, desde criança. E de não ser reconhecido, no sentido mais literal mesmo, de não saber
3. Qual seu principal defeito?
O perfeccionismo. A teimosia. (Eu sei que virou clichê corporativo, depois devidamente tratada como piada a pessoa se definir como “perfeccionista” ao ser perguntada sobre um defeito, afinal de contas é uma característica supostamente positiva e a resposta daria a impressão de que “porra, sou tão foda que até meu defeito é uma coisa boa”, mas no meu caso o perfeccionismo às vezes atrapalha real pela mania de colocar um esmero excessivo em coisas que, enfim, teriam o mesmo resultado se ficassem meia-boca. Mas, ainda assim, acho que a teimosia é sim meu maior defeito, inclusive atrapalha bem mais.)
4. Por qual defeito você tem menos tolerância?
No trabalho, omissão e falta de proatividade. Na vida “comum”, se estressar demais e por tempo prolongado com coisas de pouca ou nenhuma importância, coisa que cresceu muito depois da dependência por redes sociais.
5. Que pessoa viva você mais admira?
Como sou prolixo, vou colocar vários em diferentes “atividades” da vida. E não significam que sejam semideuses sem defeitos, mas apenas pessoas com currículos e posturas admiráveis ao longo da vida. Vou jogar 10: Ailton Krenak, Conceição Evaristo, Lula, Aniele Franco, Paul McCartney, Humberto Gessinger, Guga, Serena Williams, Lewis Hamilton, Juergen Klopp.
6. Qual sua maior extravagância?
Comer “fora” com mais frequência que meu salário acha saudável.
7. Qual é seu estado mental atual?
Algum ponto entre Cartola (“De cada amor tu herdarás só o cinismo”) e Renato Russo (“Nosso dia vai chegar, queremos nossa vez, não é pedir demais, quero justiça”).
8. Qual virtude você considera a mais superestimada?
A inteligência no sentido mais “exatas”, “olha como ele é inteligente, tira 10 tão fácil”.
9. Em que ocasião você mente?
Eu nunca minto (talvez esta seja a primeira vez?)
10. Do que você menos gosta na sua aparência?
Do que eu supostamente posso controlar, do tamanho da barriga. Fora isso, a pálpebra caída que deixa o olho esquerdo menor que o direito (piorou depois do transplante de córnea desse olho).
11. Quais as figuras históricas que você mais odeia?
A turminha que esteve nas cabeças durante a última ditadura militar brasileira e seus fãs com poder e influência política na contemporaneidade.
12. Qual sua qualidade favorita num homem?
Respeitar de verdade todas as mulheres, não só as “próximas”. (Devia ser o mínimo, mas, né?)
13. Qual sua qualidade favorita numa mulher?
Confiança e independência.
14. Que palavras ou frases você mais usa?
“Olha” ao ler/ver/ouvir alguma coisa e ficar desconfortável; “né” e “daí” no fim das frases, este último bem parecido com os da Bozena de Toma Lá Dá Cá (a Alessandra Maestrini é conterrânea e, embora citasse “Pato Branco”, boa parte da personagem era sorocabanês puro); palavrões.
15. O que ou quem é o grande amor da sua vida?
Minha filha, minha esposa.
16. Quando e onde você foi mais feliz?
Quando a Iara nasceu.
17. Qual o talento natural que você gostaria de ter?
Tocar instrumentos musicais de ouvido.
18. Se você pudesse mudar algo sobre si mesmo, o que seria?
A teimosia e o prazer pela procrastinação.
19. O que você considera sua maior conquista?
Resiliência e capacidade de aprender a exercer uma nova profissão (professor) depois dos 35.
20. Se você não fosse você mesmo, quem seria?
Sei lá, talvez alguns dos admirados da pergunta acima.
21. Onde gostaria de morar?
Numa cidade com praia que não fosse muito agitada e ao mesmo tempo tivesse toda a infra mínima necessária (água, esgoto, internet boa, supermercados etc.)
22. Qual é o seu bem mais precioso?
Meus álbuns de fotografia que ainda têm grudados na capa bilhetes e cartões escritos pela minha mãe na minha infância (falta a coragem de ler).
23. Qual sua noção de infelicidade?
Solidão.
24. Qual seu passatempo favorito?
Baralho. Buraco, mas especificamente.
25. Qual o principal aspecto de sua personalidade?
Certamente a teimosia, em alguns momentos vista como persistência e importante pra não deixar a peteca cair; em outros só teimosia mesmo, e que pode atrapalhar pra um cacete.
26. O que mais aprecia nos amigos?
A capacidade de ouvir sem julgamento.
27. Qual seu escritor favorito?
Machado de Assis e Gay Talese.
28. Qual seu herói favorito na ficção?
O Charlie Brown (eu sei que ele não é herói, mas enfim) e o dr. Emmett Brown de De Volta Para o Futuro.
29. Qual sua heroína favorita na ficção?
Eu gostava muito da forma como a JKR construiu a figura da Hermione Granger, mas depois que ela (a autora) se revelou uma transfóbica escrota de primeira categoria eu preferia de verdade esquecer que um dia gostei desse universo. Então vou de Capitu.
30. Qual sua figura feminina favorita na história?
Jane Austen.
31. Quais seus heróis na vida real?
Difícil, né? A gente se apega às pessoas e elas nos decepcionam, eu realmente prefiro não encarar ninguém como “herói”.
32. Quais seus nomes favoritos?
Vitória (nome falso da minha avó materna, um dia eu conto).
33. O que você mais odeia?
Cebola e o capitalismo (a cebola pelo menos eu consigo evitar).
34. Qual seu grande arrependimento?
Não ter tido uma relação mais próxima com minha mãe, porque ela morreu antes de eu ter maturidade pra isso e aí sobraram um bilhão de perguntas jamais feitas.
35. Como você gostaria de morrer?
Não morrendo.
36. Qual seu lema favorito?
Não é bem um lema, mas gosto muito da frase “Intelligence should be our first weapon”, frase que está em “Running on the Spot”, música do Jam regravada pelo Paralamas no disco Um Longo Caminho, o primeiro lançamento depois do acidente do Herbert. Gosto tanto que ela tá no meu status de whatsapp.
adorei que você se inspirou e fez também!
(você é sorocabano, que legal! moro em tatuíRRR)